sábado, 30 de junho de 2007

EDITORIAL . PEQUENO PASSO...!


Portugal quando vai devagarinho é para assinalar. Assinale-se: dois secretários de Estado e um subsecretário vão virar a esquina de um quarteirão. É de noticiar. E quando acontecer - o que está prometido até ao dia 1 de Julho, antes que comece a presidência portuguesa da União Europeia -, quando acontecer, mesmo, devem lá estar fotógrafos e câmaras televisivas para guardar o momento histórico: o Terreiro do Paço deu um passozinho para se esvaziar do poder, como está prometido (há séculos).José Magalhães e Ascenso Simões (os secretários de Estado) e Rocha Andrade (o subsecretário) não andarão cem metros para se juntarem ao seu ministro da Administração Interna, António Costa, que habita as imediações, mas já fora da mítica praça. Pequeno passo, é certo, mas um enorme salto em direcção a uma Lisboa mais vivida. Aquele tem sido o lugar do poder, desde que D. Manuel I abandonou o castelo para fazer o paço vizinho da Casa da Índia. Era uma homenagem real ao lugar que o sustentava, com as riquezas desembarcadas das naus. Quando foi do terramoto, que destruiu o Terreiro do Paço, já os fumos da Índia se tinham apagado e o marquês de Pombal quis erguer sobre os destroços um lugar com outras ambições.Chamou-lhe Praça do Comércio e foi isso que mandou erguer: um lugar central cercado de lojas térreas sob arcadas, com andares para os escritórios dos negociantes e suas habitações. Pombal acreditava num Portugal activo, produtivo, criador de riqueza.O quarto de milénio que se seguiu desmentiu a ambição do visionário. De projectado lugar dinâmico, burguês e popular, passou a lugar de mangas-de- -alpaca, do Portugal funcionário. A história só por momentos episódicos se relacionava com a Praça do Comércio - que os lisboetas continuavam a chamar Terreiro do Paço, quanto mais não seja para sublinharem que não eram enganados. Momentos tristes, como o assassínio do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, em 1908, felizes, como a revolução de Abril, em 1974, mas só momentos. Nos restantes dias, o que definia a praça eram motoristas ociosos ao lado de carros oficiais, esperando.Por isso é de celebrar a pequenina mudança de um ministério, que parte, libertando um prédio do nobre lugar. O prédio vai para hotel. Viva! Cumpre-se, com atraso de 250 anos, o que queria Pombal: que lá se faça comércio. Devagarinho, que é uma velocidade extraordinária comparada ao quieto, Lisboa pode recuperar a sua bela praça. Ou terreiro, logo que seja vivo.

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